Em Busca do Amor
Em tempos passados, já fazia mais de uma
década que os jovens se conheciam, visto que conheceram-se de primeira vez aos
poucos minutos de vida que tinham cada um. Rebentaram juntos, mas cada um saíra
de um ventre. Ele de Celeste, ela de Lindalva.
Celeste esperneava de dor, assim como
Lindalva, estavam postas a dez metros uma da outra e gritavam. Salgadas
lágrimas lhes escoriam pelas faces e iam parar no pesco*ço. No relógio contavam
doze horas quando os bebes começaram a berrar. Nascia um novo dia, um novo mês
e um novo ano. Nos primeiros segundos do ano 1990 dois pequenos de olhos
claros vinham ao mundo. Henrique tinha as bochechas avantajadas e coradas, e
pesava pouco mais de três quilos. Vanda era mais miúda, não pesava mais de dois
quilos e oitocentas gramas.
Foram os bebes limpos e enrolados em macias
toalhas e entregues as mães. Conversavam as duas, lembravam-se dos momentos que
passaram juntas ainda no colegial, ainda moças, de boa aparência, alegres, e
sempre dispostas. Os longos cabelos negros que pareciam dançar quando elas
andavam, o sorriso de dentes brancos, o olhar esverdeado e brilhante. Uns
diziam que eram as duas filhas de mesmos pais. Agora mulheres feitas, perderam
parte da vitalidade da juventude, mas ainda bonitas, sorriam como nunca haviam
sorrido antes, com sorrisos que iam de orelha a orelha, olhos que lacrimejavam,
tamanha era a felicidade das duas.
Os meninos cresceram juntos,
corriam por todos os cantos, era o que qualquer um chamaria de eterna amizade.
Quando um ficava doente, o outro ficava a disposição para o que precisasse.
Assim foram passando os anos, agora os pequenos estavam grandes, estavam
entrando no colegial. Henrique era um belo rapaz, alto e magro, no rosto alguns
fiapos de barba. Vanda, por sua vez, tornara-se uma bela moça, de seios
fartos e cintura de pilão.
O sentimento que antes era só
amizade ficava cada vez mais forte, porém Henrique quis procurar o amor em outras meninas.
A primeira foi Luciana, menina
simpática e popular. Seu maior defeito é que ela não gostava de seus namorados.
Depois de uns quatro meses, Vanda se deparou com uma cena tão deprimente que
chegava a cortar o coração: Henrique chorava como se sua mãe tivesse sido
morta. Chocada, Vanda perguntou:
- Henrique o que houve? Por que
está chorando?
- Luciana, ela me odeia
- Escuta, você vai encontrar
alguém que te ame de verdade, apenas esqueça essa Luciana e tente de novo. Mas,
lembre-se, as vezes damos a volta no universo procurando alguma coisa que pode
muito bem estar bem do nosso lado
Henrique seguiu o conselho de
Vanda e depois de alguns dias começou a namorar Gisele. Também não durou muito
tempo. Depois que Henrique terminou com sua terceira namorada, Natalia, Vanda
tomou uma importante atitude para resolver os problemas do amigo:
- Lembra que eu falei
que as vezes as coisas que procuramos podem estar bem ao nosso lado e nós
mesmos não percebemos?
- Sim, e você me
disse também que um dia eu haveria de encontrar alguém que me amasse de
verdade. Mas, por que está me dizendo isto?
- Quero que pare de
procurar, quem realmente te ama está bem ao seu lado nesse momento. Pensei que
você perceberia sozinho e me enganei. Então vou te dizer com todas as letras:
Eu te amo! E meu amor por você é tão sincero quanto a amizade que tens por mim.
- Vanda, te darei
todo o tempo do mundo, e para sempre serei teu, mas eu só serei realmente teu
quando me conquistares e prometo prestar mais atenção em ti e aprender a te
amar como tu me amas.
- Pois assim será,
mais dia menos dia ver-me-á com os mesmos olhos que eu hoje te vejo.
E assim foi. Celeste
e Lindalva já sabiam o que estava por vir, uma coisa que se pode chamar de intuição de mãe.
Passados alguns dias, Henrique havia ido almoçar com alguns amigos, e no
caminho da escola, em uma rua esburacada, um motorista alcoolizado, caindo de
tão bêbado, não viu que o garoto Henrique atravessava a rua e nem tão pouco
conseguiu parar seu carro a tempo. A sorte de Henrique foi que Vanda viu o que acontecia no local
e se apressou, conseguindo empurrar Henrique de volta para a calçada. No
entanto, Vanda não conseguiu chegar na calçada, sendo atingida pelo automóvel.
Henrique pasmo, gritou desesperado:
- Vanda!
Correu até o corpo e
tentou reanimar a moça que estava desacordada. Chamou por socorro, pediu a quem
passava para que chamassem uma ambulância mas ninguém ouvia. Era como se ambos
estivessem invisíveis. Henrique vendo que teria que agir por si só, tomou a moça nos braços e a levou até o hospital mais próximo. Era
lá a maternidade onde nasceram Henrique e Vanda, o quarto onde foi ela colocada
também era o mesmo. Vanda fraturou a perna direita, e estava ainda
desacordada. Henrique permaneceu ao lado dela até que ela acordou:
- Henrique? - Disse
ela tentando acordar - o que aconteceu? Eu não sinto minha perna
- Você quebrou sua
perna.
- quebrei? Como?
- quando me salvou. Você me salvou, lembra?
- Sim lembro. E minha
mãe, já foi avisada?
- Sim
- E como ela está?
- Ela está bem, você
estava desacordada há alguns dias e eu disse a sua mãe que ficaria aqui com
você, porque ela estava muito aflita quando te viu.
- Obrigada Henrique
- Eu é que agradeço,
salvaste minha vida
- E teria morrido
se... - Vanda não conseguia mais falar, sua garganta travara, sua
pressão caíra seu rosto embranqueceu e ela desmaiou. Henrique entrou
em pânico:
- Não, Vanda, Vanda
acorda, Vanda? Vanda! - Ele gritou fortemente e chorando chamou pela
enfermeira. Esta não veio.
Vanda estava
morrendo, Henrique não vendo alternativa desabafou:
- Não morra Vanda,
preciso de ti, és a única que sabe me consolar e que me entende. Eu achava que
você tinha razão quando disse-me que eras quem eu procurava, mas agora tenho
certeza. Te juro Vanda, que se morreres, eu não vou aguentar viver. Eu...
Eu te amo! - falando isso beijou-a intensamente. Quando seus lábios se
afastaram dos lábios dela, ela depois de alguns segundos reagiu.
Hoje já passam de
dezoito anos do dia em que eles descobriram que o amor eterno deles, estava
literalmente na casa ao lado. Celeste e Lindalva agora são avós de um pequeno
garoto, o qual recebera o nome Igor. E como nos contos de fadas eles viveram
felizes até o fim de seus dias.
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