A Aluna Preferida
Quando é que um professor é jovem
o bastante para ser confundido com os alunos? Sim, isso é raro, mas em uma das
poucas vezes que isso aconteceu, olha só o que ocorre em seguida:
Era mais um dia comum em uma
cidade qualquer. A turma de Design se reencontrava depois das longas
férias de verão e esperava o velho professor Geraldo para mais uma daquelas
aulas de sempre: teoria seguida de pratica. Porém, naquele ano os alunos
tiveram uma surpresa. Chegara a sala, um rapaz de uns vinte e sete anos mais ou
menos, recém-formado na mesma faculdade e que haveria de substituir
Geraldo enquanto este estivesse incapacitado de lecionar:
- O professor Geraldo sofreu um infarto
e está internado na UTI em estado grave. Então eu estarei substituindo ele por
enquanto. - apresentou-se o novo professor - Vocês podem me chamar de Felipe,
eu me formei aqui nessa faculdade, nesse mesmo curso faz cinco ou seis anos.
Bom, antes de começarmos a estudar, quero saber o nome de cada um de vocês
Assim, todos os trinta alunos
falaram seus nomes.
- Falta alguém? - perguntou o
professor
Os alunos se entre olharam quando
entrou pela porta uma moça eufórica e esbaforida:
- Oi professor, desculpa o
atraso... Eu... Ué, cadê o velho Geraldo?
- O professor Geraldo está
internado e eu vou substituí-lo. Sou Felipe.
- Júlia.
Pois bem, esse foi só
o primeiro dia, e a cada dia que passava, além do estado de saúde do professor
Geraldo piorar cada vez mais, o professor Felipe ficava a observar uma de suas
alunas, que era por ele sempre notada. Sim, estou falando de Julia.
Simplesmente, a garota recebia mais atenção que todos os outros perante suas
dificuldades e o professor sempre "pegava no pé dela", mas
a implicância era devida ao favoritismo por parte do professor.
Passados alguns
meses, Felipe chegou com aparência triste na sala. Anunciou aos alunos que o velho professor Geraldo havia falecido há poucos minutos. Naquele dia não teve aula, a turma apenas ficou
conversando a respeito do falecido mestre, até que veio a pergunta:
- Felipe, é você quem
vai dar aula para a gente daqui por diante?
- Sim Julinha. Eu vou
ficar com as aulas dele.
- Hummmmmmm! Julinha,
Felipe? - gozaram a turma do fundão - O Julia agora você já pode parar de
reclamar que não acha pretendente - Riram todos
- Quanta imaturidade!
- Exclamou Julia
Naquela noite, Julia
quase não dormiu pensando em Felipe, e nas gozações dos colegas. "Será que
o Felipe gosta de mim?", perguntava-se.
Passada uma semana da
morte do professor Geraldo, enfim as homenagens a ele se encerraram. Tudo
voltava ao normal. Felipe ficara contente de assumir as aulas do falecido
Geraldo e como já era de se imaginar, as gozações do pessoal do fundão, o
favoritismo do professor por Julia e a inveja de alguamas outras alunas continuaram. É
claro que por Julia ser a aluna preferida de Felipe, a maior parte dos colegas
dela a azucrinavam, chamando-a pelo sobrenome de Felipe:
- Senhora Schinnebler
pode me emprestar um lápis?
- Senhora
Schinnebler me alcança aquilo?
- Senhora
Schinnebler, Senhora Schinnebler, Senhora Schinnebler... - obviamente
Julia se irritava, mas não dava atenção. Parecia que ela havia se conformado
com a alcunha.
Enquanto isso, as
invejosas, queriam acabar com Julia, não só por não gostarem dela desde que se
conheciam, mas também porque não aceitavam que ela fosse a aluna preferida,
visto que julgavam-se melhores que ela. Em certo dia, elas aprontaram com
Julia, pingando cola no cabelo dela e prendendo vários papeis coloridos. Quando
a moça percebeu, acusou-as logo para o professor, o qual respondeu:
- Vai limpar seu
cabelo, Julia. E quanto a vocês - falou apontando e olhando para as cinco moças
- dois pontos a menos para cada uma. E eu vou passar um trabalho extra para
vocês, assim não vão ter tempo para essas brincadeiras sem graça.
Com raiva elas
cumpriram com o dever, mas combinadas entre si, prometeram que iriam de
qualquer forma acabar com Julia. Todo dia era a mesma coisa. Até que um dia
Julia não apareceu na escola. Felipe perguntou por ela, e nela ficou pensando o
resto da aula. Ao final do dia, foi até a casa da garota adorada a fim de saber
notícias sobre ela. Julia não sentia-se bem, estava enfebrada e sentia
calafrios. Felipe e ela conversaram e por fim ela foi levada ao pronto socorro.
Depois de receber medicação diretamente na veia, Julia pode voltar para sua
casa. Felipe passou a noite toda ao lado dela, sentado numa poltrona. A reação
dos colegas de Julia ao saberem, foi a esperada. A partir daquele dia, toda vez
em que Julia faltava, Felipe ia até sua casa.
Assim passaram-se
dois anos. Chegara a hora mais esperada por todos, a formatura. As meninas
passaram a maior parte do dia no salão de beleza, fazendo cabelo e maquiagem.
De noite, todas com seus lindos vestidos, e os meninos com seus elegantes
ternos compareceram ao lugar definido. Teve a cerimonia de colação de grau que
sempre tem e depois a valsa. Os pais de Julia não moravam na mesma cidade e não
puderam comparecer, e sem contar que o pai dela era paraplégico.
Então ela se despediu dos amigos e estava indo embora. Felipe viu que ela
estava dirigindo-se para a saída e foi atrás dela:
- Espere. Aonde você
vai? - perguntou ele
- Vou para
casa.
- Mas por quê? Não
vai dançar a valsa?
- Meu pai nem veio.
- Eu danço com você.
Me daria a honra?
- Está bem.
Dançaram os dois.
Depois da valsa, tocaram uma musica lenta para os apaixonados e depois viria a
balada. Mas ainda na música lenta, Felipe aproveitou-a para declarar-se à
Julia:
- Você sabe o que eu
realmente sinto por você Julia?
- Felipe, você é meu
professor, e meu amigo também. O que mais poderia sentir por mim?
- Não sou mais seu
professor, mas se você me aceitar posso ser mais do que um amigo.
- Para Felipe!
- Não, eu preciso te
perguntar - ocorre uma pausa longa - Casa comigo?
- O quê? - Julia fica
pasma. Felipe ajoelha-se:
- Julia Resende você
aceita se casar comigo? Aceita ser para o resto da sua vida a Senhora
Schinnebler?
- Eu não sei o que
dizer. Eu tenho a resposta na ponta da língua mas ela simplesmente não quer
sair.
Ele levanta-se e
beija ela. Todos veem e começam a zombar. Depois do beijo ela sorri e diz:
- Sim.
- Mesmo?
- Sim. Eu aceito me
casar com você - olha para os colegas que estavam rindo e diz - Eu aceito ser a
senhora Schinnebler para o resto da minha vida, até que a morte nos separe.
- Oh! - exclamaram todos
os que estavam a volta enquanto Felipe e Julia se beijaram novamente.
No ano seguinte
Felipe e Julia foram vistos na praia já de alianças trocadas. Foi a última vez
que eles forma vistos em público, mas ninguém sabe dizer o que acontecera com
eles. Na casa de praia as malas da viagem ainda estavam lá, louças na pia,
roupas estendidas no varal, como se eles estivessem acabado de sair, mas já
fazia dias que não punham os pés no local e não eram vistos em lugar algum. O
que se sabe é que no último dia em que foram vistos, o mar estava bravo, muito
bravo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário