segunda-feira, 14 de outubro de 2013

ANJO DA GUARDA

Essa é a história de duas irmãs, Bianca e Natália. Bianca, a mais velha, sonhava em ser mãe. Era dedicada, inteligente, se destacava entre as moças da sua idade. Já Natália era rebelde, aos quinze anos fugiu de casa, se envolveu com drogas e aos dezoito se viu grávida de um moleque de quem ela nem ao menos sabia o nome. E é aí que começa a nossa história.

Natália era irresponsável. Passou os nove meses de gestação nas ruas, se drogava, comia mal, estava com a aparência horrível. Um dia passou mal, Bianca a encontrou e levou-a ao hospital. Quase perdera o bebe. Como já estava no fim da gestação, Bianca a fez ficar em sua casa. Tempo depois o bebe nasceu. Era uma linda menininha, que recebeu o nome de Laura. Quando chegou a hora de amamentar, Laura foi tirada dos braços da mãe e levada ao quarto ao lado. A explicação dada pela enfermeira foi que de tanto que Natália se drogou durante a gravides a droga ficou no leite e por isso ela não poderia amamentar. A jovem mãe ficou arrasada.

Dessa forma depois de um tempo Natália sumiu no mundo, deixando Laura aos cuidados da tia Bianca, que se viu sozinha com um neném recém-nascido nos braços. Agora mudou seu pequeno salão de beleza para sua casa, para assim não ter que deixar a pequena Laura largada em alguma creche. Claro que Bianca perdeu clientes, mas nada a impediu de continuar com seu pequeno negócio.

Laura cresceu e aprendeu a chamar Bianca de mãe.

Um belo dia, uma garota magrela e acabada apareceu na casa de Bianca. Era tarde da noite. Que espécie de ser era aquela garota, que ousava entrar numa casa em meio a madrugada? Era Natália que voltara depois de tanto tempo. Laura acordou, viu aquela misteriosa figura que a chamou:

- Laura? É você mesma?

- Quem é você? - perguntou Laura

- Eu sou sua mãe - respondeu Natália

- Não, ela é minha mãe - disse Laura apontando para Bianca

- Laura, querida, vai deitar, amanhã eu te explico tudo, mas agora eu preciso ter uma conversa com essa moça - pediu Bianca

- Sim mamãe

Assim que Laura saiu do cômodo, Natália chorando falou:

- Como pode fazer isso comigo?

- Como pode fazer isso comigo? Eu te fiz um favor. Eu criei a sua filha - respondeu Bianca em tom alto

- Você ensinou ela a te chamar de mãe

- Você sumiu. Por que eu deveria acreditar que você voltaria?

- Eu sou a mãe dela

- Não, não é.

- O que esta dizendo?

- Eu sempre quis ser mãe. No entanto foi você quem engravidou. - lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Bianca - Lembro que por tanto tempo pensei que o destino estava sendo injusto comigo, mas na verdade, ele foi tão justo quanto deveria. Eu ganhei uma filha, mas não sofri as dores do parto. Não pude amamentar do meu próprio seio, mas mesmo assim gastei grande parte do meu dinheiro pra comprar do melhor leite para Laura. Tudo o que ela precisou, tudo que ela quis. Tudo. Eu dei tudo pra ela, enquanto você a abandonou. Aceite Natália, você não merece ser chamada de mãe... Não nasceu para ser mãe

- NÃO... NÃO DIGA ISSO BIANCA - berrou Natália - VOCÊ NEM AO MENOS SABE POR QUE EU FUI EMBORA

- Sei sim. Você é fraca. É irresponsável. Preferiu fugir ao aceitar que não poderia amamentar sua filha.

- CHEGA BIANCA. ME DE A MINHA FILHA, QUE ELA E EU VAMOS EMBORA PRA NUNCA MAIS VOLTAR

- Não Natália. Ela não é mais sua filha. Você deixou de ser mãe dela no exato instante em que saiu por aquela porta e a deixou para trás. Vai, some daqui e jamais ouse aparecer novamente

Natália saiu chorando e em respeito ao pedido de Bianca ela jamais voltou. Na casa, Bianca viu sua irmã ir embora para sempre. Atrás de Bianca, a pequena Lara se aproximava:

- Mãe, quem era aquela mulher?

- A minha filha, vamos pro quarto e lá eu te explico

Depois que Laura já estava deitada, Bianca lhe contou:

- Aquela era Natália, minha irmã mais nova, ela é sim sua mãe biológica. Mas sua mãe verdadeira sou eu.

- Como assim? Mãe biológica e mãe verdadeira não é a mesma coisa?

- Não. Mãe biológica é aquela que da a luz ao bebe, e mãe verdadeira é aquela que cria o bebe com todo amor e carinho. A Natália teve você, mas ela não pode te dar de mamar, então fugiu e eu te criei. Deve estar confusa, é melhor parar por aqui.

- Espere, essa Natália, minha mãe ou sei lá o que, ela vai voltar?

- Não sei, mas enquanto ela não voltar, eu serei sua mãe

- Você será sempre a minha mãe. Eu te amo.

- Também te amo filha

Assim as duas se abraçaram e depois Bianca deixou Laura dormir. No dia seguinte, em todos os jornais estava noticiada a morte de uma jovem, identificada apenas como Nati, o que era o suficiente para Bianca saber que se tratava de Natália. Laura estava lendo um bilhete que fora deixado na sua janela. Nele dizia: "Laura, eu sei que você deve me odiar. Eu sei que errei, mas agora vou reparar todos os meus erros. Você jamais me verá de novo, mas eu estarei sempre cuidando de você, aqui do céu. Eu não devia, mas não iria conseguir viver, sabendo que perdi minha filha para sempre e sabendo que foi tudo culpa minha eu ter te perdido. Mas saiba que apesar de tudo eu te amo, mesmo que nunca tenha demonstrado isso em vida. ASS.: Natália" .

Bianca ao ver a menina lendo perguntou:

- O que é isso?

- É da minha mãe... Da Natália

- Da Natália? Deixe-me ver

Bianca leu e depois soltou o que seria um suspiro de alivio. Natália tirara a própria vida para pagar seus pecados, e deixou um bilhete para a filha para explicar o porquê de ela ter feito o que fez. Nesse momento, um filme passou diante dos olhos de Bianca. Toda sua infância, todas as lembranças que tinha de Natália, tudo ela viu e chorando abraçou Laura. Ali ela entendera tudo, Laura era o único fruto bom que Natália colhera e deixou nas mãos da única pessoa que ela sabia que poderia cuidar para que este tivesse boas sementes para plantar:

- Então foi por isso que ela fugiu - pensou - ela sabia que não teria forças para criar uma criança, e seu orgulho a impediu de pedir ajuda. Céus eu fui tão injusta com ela. Natália, me perdoa. Eu deveria ter ouvido você. Agora é tarde, eu matei você com minhas palavras. Como pude fazer isso meu Deus? Como? Se eu pudesse voltar atrás Natália. Aonde quer que você esteja Natália, me perdoa.

Então, uma estranha força tomou conta do lugar. Uma luz intensa tomou conta de Laura que falou:

- Sim Bianca, eu te perdoo. E peço perdão também, eu deveria ter pedido ajuda quando precisava. Você tem razão, eu fui fraca, preferi fugir, mas agora não tem volta. Cuide da menina, você sim nasceu para ser mãe. Diferentemente de mim você é responsável, e eu entendo se você não quiser falar de mim para ela. Eu jamais fui mãe dela depois que ela nasceu.

- Natália?

- Sim minha irmã

- Natália eu me arrependo tanto. Me perdoa, eu jamais vou me perdoar. Eu matei você

- Não Bianca, eu já havia me matado há muito tempo, desde que fumei meu primeiro cigarro de maconha. Como você bem sabe, as drogas me cegaram e me ensurdeceram. Eu não conseguia ver a realidade e não conseguia te escutar, foi assim que fiquei grávida. O que você não sabe é que eu sempre pensei em você durante a minha gestação, sempre pensei em te dar o mais valioso presente. Por isso a Laura agora é sua filha, por que só você sabe realmente o que é ser mãe

- Natália, eu não imaginava...

- Agora tenho que ir. Adeus minha irmã.

- Espere, você não quer falar com Laura?

- Nós conversaremos todas as noites, eu serei seu anjo da guarda.


Uma luz ainda mais intensa, tomou conta do quarto. Depois de um tempo tudo voltou ao normal. Laura perguntou o que havia ocorrido, Bianca contou tudo, e agora, todas as noites Laura conversa com sua mãe Natália, o seu anjo da guarda.


Autor(a): Vallery Corrêa

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