quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

É Coincidência


"Só o amor pode explicar", essa é a frase chave dessa história, que começa em 1960, quando nasceu João, rapaz romântico, que agora, aos 30 adorava compor e tocar músicas sobre amor. Apaixonado por Ana, um dia declarou-se publicamente a ela. Foi humilhado. Caminhou até uma ponte, e estava quase pulando, quando escorregou. Foi seguro por uma mão feminina. Olhou para cima, estava Maria, uma moça aparentemente frágil que acabara de salvar sua vida. Depois de algum esforço, João esta salvo:

- Por que você me salvou? - perguntou ele

- Qualquer um faria o mesmo. Você tentou se matar?

- Não tenho nada a perder mesmo. - pausa seca - Sou João

- Maria. Por que você tentou se matar?

- Tenho meus motivos

- Foi uma mulher, não foi? Sei que isso não é da minha conta, mas desabafar é o melhor jeito de esquecer.

- Você tem razão. É uma mulher sim. Ela..., ela me humilhou.

- Ela não te merece

- Como disse?

- Ela não te merece, se ela te humilhou é porque não te merece. Vai por mim, esquece ela e parte para a próxima.

- Ou você me deixa pular dessa ponte

- Se você pular de novo eu te salvo de novo. Toda ação tem uma reação, assim como toda poesia pode virar uma canção.

- De onde você tirou essa frase?

- Eu que inventei

- Mentira, essa frase é minha.

- Sua? Eu uso essa frase já faz uns cinco anos

- Sério? Eu também

- Jura?

- Você mora por aqui? Seu rosto me parece familiar

- Eu venho de Curitiba, mas nasci no Rio de Janeiro. E você, é daqui?

- Eu moro aqui desde criança, mas nasci no Rio de Janeiro.

- Que cidade?

- Sou da capital

- Que coincidência. Espera, você disse que meu rosto te parecia familiar?

- Sim, mas não sei de onde te conheço. É como um dejavu.

- Sinto isso também. É estranho. Acabei de chegar à cidade, nunca vi você na vida, mas parece que te conheço a anos.

- Sobrenatural

De repente começou a chover:

- É melhor irmos - disse ele

- Mas eu não tenho para onde ir

- Venha para minha casa por enquanto.

- Não será um incomodo?

- Claro que não, vamos.

Dessa forma, eles foram para a casa de João. Era um lugar modesto, havia apenas dois quartos, sendo que um era onde João escrevia lindas canções.

- Você pode ficar no meu quarto - disse João

- Mas e você?

- Eu durmo no meu quarto de música, sem problemas.

- Tudo bem

- Está com fome?

- Um pouco. O que tem pra comer?

- Tem o que sobrou do almoço, lasanha.

- Adoro lasanha

Logo, João trouxe a janta, uma deliciosa lasanha de molho branco:

- Nossa essa lasanha está uma delícia. Onde você comprou?

- Não, não é comprada.

- Você mesmo que fez?

- Claro. Quem não gosta de cozinhar

- Verdade.

Assim, depois de eles comerem, João lavou os pratos e foi para o quarto de música, enquanto Maria retirava um caderno de sua mochila para escrever. Ela escrevia histórias, a maioria, senão todas, de amor. No entanto, naquela noite ela não estava inspirada, demorou a começar a escrever. João também não estava conseguindo escrever. O que alguém como eles faria numa circunstância dessa? Escutar música é sempre o melhor remédio.

Maria começava a despontar o início de uma história, quando ouviu tocar sua música preferida e o que era apenas o início se tornava uma história inteira, assim como a música que João estava escrevendo. Ambas começavam com o seguinte dizer: "Só o amor pode explicar, o que nem o tempo foi capaz de apagar. O que aconteceu não foi por acaso, já estava escrito que era para se resolver assim esse caso”. De repente, um forte trovão assustou os dois e apagou todas as luzes da casa.

Assustados João e Maria acenderam uma lanterna cada um. Ele foi até o quarto onde estava ela para averiguar se tudo estava bem. Como não tinha o que fazer, eles simplesmente passaram o tempo conversando, até caírem no sono, juntos repousados sobre a mesma cama. Quando um novo dia amanheceu e o casal finalmente acordou, como ainda chovia e a luz não voltara, só que podiam eles fazer era terminar de escrever o que haviam começado na noite anterior. Passaram-se horas, passaram-se rápido, como minutos, já marcava seis horas da tarde no relógio e começava a escurecer quando finalmente os jovens desenhavam a ultima frase no papel: "Se é para ser bom, então que seja. Se é para continuar assim, que tudo se acabe e se é para sofrer mais, então adeus". Uma energia sinistra tomou conta do lugar, que escureceu mais rápido do que deveria. Já não dava para ver mais nada, apenas sentia-se o vento frio arrepiando os pelos. Os dois que estavam sentados frente a frente na cozinha perguntaram-se o que estava acontecendo. Sem querer as mãos deles se tocaram, quando um forte vento, fez os cadernos dos dois voarem. Num piscar de olhos a luz voltou. Os cadernos estavam jogados num canto. João os ajuntou e entregou um deles para Maria. Ainda sentados frente a frente leram o que estava escrito. Ele leu o conto dela e ela a poesia dele. A história era a mesma, contada de formas diferentes. Depois de lerem tudo os dois se olharam, por um tempo ficaram sem palavras, não entendiam como era possível eles terem escrito a mesma história e ao mesmo tempo:

- Nossa isso é incrível! - exclamou ele

- Incrível mesmo, e um tanto estranho - concordou ela.

- O estranho se torna normal quando se faz uma vida toda do surreal

- E o impossível poderá acontecer quando o invisível a gente puder ver

A última frase os dois disseram juntos:

- E tão forte quanto uma sangrenta dor é esse sentimento mágico que chamamos de amor

Quando se pensava que eles iriam beijar-se, estavam seus lábios distantes apenas um milímetro, e tendo se encostado por uma fração de segundo um vento forte e anormal tomou conta do lugar, levando-os em direções opostas e arrastando-os para qualquer endereço longe dali. O que será que acontece agora?

Ambos desmaiaram, e desacordados foram deixados em salas minúsculas, das quais tinham uma única saída, para um corredor que parecia não ter fim e ainda estava mal iluminado. As paredes úmidas pareciam sufocar quem passava por elas. João e Maria acordaram, estava cada um em uma salinha. Assustados buscaram por um saída seguindo o imenso corredor.

Correram, correram, correram, e nada, não se chegava a lugar algum. Apenas mais paredes úmidas e repletas de teias de aranha. Exaustos chegaram até uma pequena galeria, com quadros nas paredes, mas esses quadros não eram famosos, eram quadros das vidas de João e Maria. Colocada encostada e ao centro de uma das paredes estava uma mesinha, sobre a qual havia um caderno e alguns papeis com frases escritas. Maria encontrara nesses papéis a poesia que João escrevera um verso por papel, enquanto João via linhas do conto escrito por Maria, uma linha em cada papel. Um painel apareceu como se fosse um holograma. Nele dizia: "Você tem pouco tempo para escrever o que nesses papeis esta. Seja rápido ou sofra as consequências". E as paredes começaram a se aproximar. João e Maria correram contra o tempo e escreveram parte da história, faltava poucas linhas/versos quando uma forte e rápida rajada de vento levou todos os papeis que ainda restavam para longe dali, mas especificamente para debaixo da parede que se aproximava.

E agora? Sem os papeis eles teriam que puxar pela memória e lembrarem eles mesmo do final tanto do conto quanto do poema. O tempo estava acabando, qualquer erro poderia ser fatal. Suor frio lhes escoria, não sentiam a caneta em suas mãos, mas a sentiam deslizar pelo papel. Quando parecia que enfim eles iriam terminar, as canetas começam a falhar, até que não desse mais para se ver o estava escrito. A tinta havia acabado. Não tinha mais como escrever, então, faltava a última frase, a qual era idêntica nos dois textos. Sem ter certeza nenhuma, e com medo de que a dúvida os matasse, recitaram a parte que faltava escreverem:

- Se é para ser bom, então que seja. Se é para continuar assim, que tudo se acabe e se é para sofrer mais, então adeus!

Nesse exato momento as paredes pararam de se mexer e a mesa bem como a parede na qual esta estava encostada sumiram, abrindo espaço para os dois se encontrarem novamente. Abraçaram-se e concretizaram aquele beijo que foram impedidos de dar.

Mesmo assim, não tinha nenhuma saída à vista. Para onde correr? Como sair dali? Esquerda ou direita? A decisão foi seguir em frente, até acharem a parede, onde tinham dois túneis, mas qual eles deveriam seguir? Que incógnita persistente. Poderia ir cada um para um lado, mas quem garante que chegariam ao mesmo lugar, ou mesmo se voltariam a ver-se. O tempo passa, e o casal decide para que lado ir. Até certo ponto havia sido tranquilo para ambos, porém à medida que eles caminhavam ia ficando escuro e o chão começava a se soltar. Agora não tinha mais volta, ou eles saiam ou morriam. Logo o túnel acabou deixando-os presos para morrer. O que eles não sabiam é que a verdadeira saída era a maior coincidência que existia entre eles:

- É o fim, não é, João? - perguntou Maria

- A-acho que sim - gaguejou João - foi bom enquanto durou

- Realmente

- Pelo menos vamos morrer juntos

- Isso alivia alguma coisa?

- Sim, eu vou morrer, mas vou morrer sabendo que você estava do meu lado, quando eu quase me matei, foi você quem me fez desistir dessa louca ideia. E mesmo que tenhamos passado pouco tempo juntos, foi o suficiente para eu poder dizer que te amo.

- Repete a última frase, por favor?

- Quantas vezes você quiser, EU TE AMO!

- Também te amo... Mas porque só agora...?

- Acho que esse deveria ser o momento...

- Com isso você quer dizer...?

- Eu não me imagino passando o resto da minha vida sozinho, mas também não imagino mais ninguém ao meu lado que não seja você. Sim, é isso mesmo... Você quer ser a mulher que passará o resto da sua vida comigo?

- João, estamos a poucos minutos de conhecer a morte, mas se não for para acabar agora, você sabe que eu não tenho outro lugar para ir, e eu não desejo ir para outro lugar que não seja sua casa,

- Isso é um sim?

- Óbvio que é um sim. Você é a pessoa mais maravilhosa que eu já conheci. Como responder outra coisa?

- Pensei que pela nossa diferença de idade...

- São só 10 anos, e existem casos em que a diferença de idade passa de 30 anos... E depois isso não quer dizer nada.

- Posso te beijar? Talvez seja nosso último beijo

- Claro

Nisso eles deram o que seria o seu último beijo. Logo o chão abaixo de seus pés cedeu, e eles caíram. Parecia que iam cair para sempre. No entanto logo eles pararam no ar e desmaiaram. Quando acordaram estavam deitados sobre a cama dele. Lembram-se de tudo o que havia ocorrido. As histórias escritas no caderno eles também se lembravam das duas. O que aconteceu depois, vocês devem imaginar.

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