terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Uma Verdadeira Paixão

Atores podem até ter uma vida conturbada, mas nenhuma se compara a vida que levaram o casal Robson e Clara. Eles se conheceram ainda jovens, quando gravaram uma novela, na qual ambos eram protagonistas, e o romance da novela se estendeu para a vida real. Depois de uns dois anos eles se casaram. Dessa união nasceu a pequena Bárbara.

Quando a menina completou quatro anos de idade, contraiu uma grave doença e, veio a falecer no mesmo instante em que, nascia em outro quarto do mesmo hospital, a menina Andreia.

Com a morte de Barbara, Clara ficou depressiva e pouco depois de sua segunda filha, Vivi, vir ao mundo, Clara foi internada numa clínica psiquiátrica por ter sido considerada mentalmente insana e incapaz de criar uma criança, já que as abusivas quantidades de medicamentos deixaram-na louca. Foi assim que Robson viu sua filha crescer sem uma mãe.

E eis que um dia, Vivi estava ainda no primeiro ano do ensino fundamental, numa tarde de setembro, dois colegas começaram a incomodá-la puxando-lhe os cabelos e dando-lhe pequenos e fracos beliscões. Vendo aquela cena, uma aluna mais velha, do segundo grau, partiu em defesa da pequena Vivi. Essa garota era Andreia, a mesma que nascera ao mesmo instante em que morrera Barbara:

- Ei meninos. Parem já com isso ou chamo a professora de vocês! - disse Andreia segurando os dois meninos. Então ela chamou Vivi - vem comigo menina.

Vivi olhava para baixo, parecia triste. Andreia a sentou num banco próximo a cantina e perguntou-lhe se aqueles meninos sempre a incomodavam:

- Sim, eles são muito chatos - respondeu a menina.

- E qual é seu nome?

- Vivi

- O meu é Andreia

Então bateu o sinal para entrarem. Andreia esperou com Vivi até a professora chegar e falou do ocorrido para ela. 

No final da tarde, quando estava indo embora, Andreia viu Vivi saindo de sua salinha e perguntou-lhe se queria companhia até que viessem buscá-la. Assim as duas sentaram juntas perto do portão de saída. 

Desse modo, as duas esperaram juntas por alguns instantes e, enquanto, ajoelhada Andreia amarrava o cadarço do tênis de Vivi, Robson chegava:

- Filha - disse ele.

- Oi papai - respondeu Vivi sorrindo

Andreia virou-se e olhou na direção de Robson. Vendo quem era levantou-se rapidamente:

- Boa tarde, senhor... - ela cumprimentou e ao perceber de quem se tratava ficou paralisada por alguns instantes

- Boa tarde - ele respondeu 

- O senhor é Robson Arantes, o famoso ator das mil e uma atuações...

- Sim, e você, quem é?

- Andreia, sua maior fã, senhor...

- Eu não sabia que tinha uma fã tão jovem. Muito prazer.

Os dois apertaram as mãos:

- Bom, vamos filha - chamou Robson, abrindo a porta do carro.

- O senhor tem uma filha linda - disse Andreia

- Obrigado

Vivi entrou no carro e a porta foi fechada. Enquanto Robson se despedia de Andreia, começou a chover forte.

- Quer uma carona? - perguntou Robson

- Se não for incomodo - respondeu Andreia

- De maneira nenhuma

Então Robson levou Andreia até uma modesta casa de alvenaria cor de areia. Antes que a garota descesse Robson comentou que morava na rua atrás da casa de Andreia:

- Nossa! Que coincidência!  - exclamou ela abrindo a porta do luxuoso veículo preto - Bom... então... obrigada pela carona. Até logo., 

- Até logo

- Tchau Vivi

- Tchau Andreia. 

Andreia foi para sua casa enquanto Robson e Vivi iam para a deles.

Dias mais tarde, Robson recebeu uma proposta e deveria apresentar-se num dia marcado para conceber uma resposta. Com isso acabaria por não poder buscar sua filha na escola no horário normal de saída, o que queria dizer que teria que deixar a menina sobre os cuidados de alguém. Sem opções, foi falar com a professora de Vivi:

- Será que não haveria possibilidade de alguém aqui ficar com minha filha por mais tempo? Questão de negócios

- Desculpe senhor, mas fechamos as seis e trinta.

- E eu pago vocês para que?

Antes que a professora pudesse responder, Andreia chegou, estava atrasada, mas ao notar que Robson precisava de ajuda parou para conversar com ele, esquecendo-se da aula:

- Senhor Robson, algum problema?

- Não, é só que eu vou ter que sair agora de tarde e vou demorar, e a professora se recusou a ficar um tempo a mais com a Vivi.

- Se o senhor quiser eu levo-a para a minha casa depois da aula

- Eu não quero te dar esse incomodo, mas como não me resta alternativa...

- Imagina, não é incomodo nenhum.

- Então eu pego a Vivi na sua casa a noite

- Claro, não se preocupe com nada, a Vivi ficará bem.

- Eu sei. Com você ela estará em bons cuidados

- Ah, obrigada - diz envergonhada levando as mãos ao rosto de maneira a cobrir as bochechas.

- Quem agradece sou eu - olha nos olhos dela, e segurando suas mãos beija-as em sinal de cumprimento - eu vou indo, não quero atrapalhar sua aula.

- A aula! - espantou-se ela - é melhor eu ir. Até a vista Sr. Robson

Adiantando um pouco o relógio, depois da aula Andreia esperou até que Vivi saísse da sala, pegou-a no colo e lhe contou as novidades:

- Hoje você vai lá pra minha casa

- Por quê?

- Seu papai vai demorar um pouco. Coisas do trabalho

- Ele vai demorar muito?

- Não sei querida, não sei.

Na casa de Andreia, Vivi disse estar com fome. Foram as duas então tomar um lanche. A pequena terminava de beber seu leite, quando o copo escapou de sua mão, o que fez molhar sua roupa. Andreia então levou a menina para o quarto. Ela iria por uma roupa seca e limpa em Vivi, mas achou melhor a menina tomar um banho primeiro. Depois, como Vivi não tinha roupa em sua mochila para trocar, Andreia retirou uma sacola de seu pequeno guarda-roupas rústico e dela pegou um pijama branco de seda com botões de pérola, que era do tamanho de Vivi, para que a pequena vestisse.
Vivi vestiu-se, e enquanto ela penteava seu lindo cabelo loiro escuro, (cabelo esse que era igual ao de sua mãe, já que Robson tinha cabelos negros como a noite), Andreia puxava até o quarto uma enorme caixa de papelão onde havia dezenas de bonecas, cada uma com uma roupinha, e mais uma bolsinha de retalhos cheia de outras roupinhas:

- Olha minha coleção de bonecas pra gente brincar, se quiser alguma pode levar.

Dessa forma, as duas brincaram e brincaram, até Vivi cair no sono. Enquanto Vivi dormia, Andreia desceu as escadas e dirigiu-se para a cozinha, para beber um pouco de água. Olhou para fora pela janela, iniciava-se um temporal, as luzes piscavam, "É melhor ficar lá em cima para o caso de a menina acordar", pensou ela. Quando chegou ao terceiro degrau bateram na porta. Era Robson. Estava todo molhado da chuva e com uma horrível aparência de exaustão. Andreia o convidou a entrar e tomar um café. Ajudou-o a tirar a jaqueta de couro vintage que usava e a pendurou. Foram ambos até a cozinha, Robson andava parecendo não sentir o chão. Sentou-se à mesa apoiando a cabeça nas mãos. Andreia fez o café e serviu-o. Vendo que Robson não estava bem, perguntou-lhe:

- Senhor Robson, aconteceu alguma coisa?

- Nada de mais Andreia, é só que não tenho boas recordações dessa data, e ainda por cima, nosso elenco de atores ficou desfalcado, depois de algumas brigas hoje, mas isso não vem ao caso...

- Por que o senhor não tem boas recordações da data de hoje?

- Foi em 1997... Dia oito de novembro de 1997, minha primeira filha, Barbara... Foi quando ela morreu... Depois disso minha, até então esposa, Clara, entrou em depressão... Passados alguns meses do nascimento de Vivi, minha Clara foi internada numa clínica psiquiátrica... E não saiu mais de lá...

- Sinto muito... Sabe, eu também tenho recordações não tão boas dessa data...

- Tem é?

- Sim, hoje é meu aniversário, e há anos meus pais me deram o seu último presente, um presente de grego... Eles sumiram, foram embora e me deixaram aqui, sozinha...

- Sinto muito

- Pelo menos eles pagaram a escola

Risos

- Então hoje é mesmo seu aniversário?

- Sim

- Parabéns e muitas felicidades

- Obrigada

Após eles tomarem café, Robson pegou sua filha, agradeceu Andreia pelo favor e foi embora, esquecendo-se da jaqueta. No dia seguinte, que era sábado, Andreia foi até a majestosa casa de Robson para lhe devolver a jaqueta esquecida. Ele estava pensativo andando de um lado para o outro na sala de estar, quando ouviu a campainha:

- Quem será à uma hora dessas? - pensou

A empregada atendeu a porta e Andreia entrou:

- Senhor Robson?

- Olá Andreia, que bom ver você.

- Eu vim trazer a jaqueta que o senhor esqueceu em minha casa ontem

- Obrigado. Olha sem querer abusar da sua bondade, será que posso te pedir um favor?

- Pode sim

- Minha empregada está saindo de férias e eu fui chamado para resolver um problema com aquela proposta que eu tinha recebido. Será que você pode olhar a Vivi pra mim?

- Claro, a que horas?

- Logo após o almoço

- Senhor Robson, o almoço já está servido - declarou a empregada - Eu já posso ir?

- Sim Carmem, boas férias.

- Agradecida.

Assim a empregada Carmem saiu para suas férias. Vivi vinha descendo as escadas quando viu Andreia e correu para lhe abraçar. Andreia pegou-a no colo:

- Pai, a Andreia veio almoçar com a gente? - perguntou Vivi

Robson fez um sinal para Andreia e ela confirmou:

- Veio sim filha - respondeu Robson - vamos antes que a comida esfrie

Ao redor da mesa, eles almoçaram e conversaram como uma família. Após todos terminarem, Andreia se dispôs a lavar as louças e Robson que tinha que sair, saiu. Vivi e Andreia passaram a tarde toda brincando, nem notaram quando Robson chegara. Ele chegou pouco mais cedo do previsto e ficou a observar silenciosamente e sorrindo, as duas meninas que brincavam como mãe e filha.

No fim do mês, as aulas de Andreia acabaram. Ela acabara o segundo grau, portanto, teve sua festa de formatura. Como não tinha notícias de seus pais, convidou Robson e Vivi para a cerimônia e o ator se dispôs a dançar a valsa.

E o tempo passou. Andreia e Vivi brincavam quase todos os dias, principalmente depois de Vivi entrar em férias. Robson estava bastante ocupado com a gravação da novela, então Andreia ficava com Vivi quase todas as tardes, passando até por uma situação em que a filha do ator estava doente, sentindo muita febre e dores, mas felizmente não foi nada grave.

E como era dezembro, logo chegaria o natal, e desta vez a noite feliz foi diferente para todos os três:

- Você não gostaria de passar o natal com a gente, Andreia? - convidou Robson

- Só se vocês me deixarem fazer a ceia

- Esta bem

Numa tarde antes do natal, Andreia levou Vivi para comprar um presente para Robson:

- O que você quer dar para seu pai?

- O relógio de pulso dele parou, e ele sempre usava quando ia para o trabalho.

Então as duas foram para a joalheria comprar o mais bonito relógio de pulso que encontrassem. Na noite do dia 24, Andreia chegou à casa de Robson com uma caixa enorme nos braços. Era o presente de Vivi, que depois da ceia foi entregue, bem como os outros presentes. Vivi abriu o seu presente:

- Sua coleção de bonecas, Andreia.

- Sim, agora ela é sua - disse Andreia pegando outro presente - e este é pra você, senhor Robson.

- Para mim? Obrigado - Robson abriu o pacote e ficou maravilhado com um CD autografado de seus ídolos, uma famosa banda irlandesa - mas como você...?

- Segredo - era sorri.

- Olha pai, esse é o meu presente pra você - disse Vivi entregando o relógio que havia sido comprado por Andreia.

Robson o abriu, viu o que era, agradeceu e cochichou alguma coisa no ouvido de Vivi. A menina pegou um pacote rosa com fita vermelha e entregou para Andreia. Era um par de sapatos brancos sem salto, como Andreia gostava. Ela agradeceu aos dois. Robson a surpreendeu:

- Mas ainda falta o meu! - exclamou ele

- O que? Mais um? Mas não precisava

Uma pequenina caixinha foi-lhe entregue. No seu interior, o mais lindo par de brincos já visto em qualquer lugar no mundo. Tinha forma de coração, era de prata e seu interior preenchido com um diamante. Custara uma fortuna e Andreia ficara maravilhada.

Sem dúvida aquela noite não seria esquecida tão facilmente, mas a noite de ano novo, na semana seguinte, foi sem duvida a mais inesquecível de todas. Pouco antes da virada, subiram os três até a sacada do quarto de Vivi. A menina olhava para o céu contentemente, apoiada na ponta dos pés para ficar mais alta, deixando à mostra os seus sapatinhos brancos, semelhantes aos de Andreia, por debaixo do vestidinho que parecia de princesa. Andreia aproveitara a ocasião para estrear os brincos e sapatos novos, além de um elegante vestido branco que havia sido de sua mãe. 

Pouco faltava para a meia noite, Robson tomou coragem e disse a Andreia:

- Sabe desde que os médicos disseram que minha ex-esposa não sairia tão cedo da clínica, você foi o mais próximo de uma mãe que a Vivi teve. Ela não deve se lembrar de Clara, era ainda tão pequena...

- O que está querendo me dizer?

- A Vivi precisa de alguém para chamar de mãe. E ela gosta muito de você, e eu sei que você gosta muito dela...

- Não entendo, onde quer chegar?

Robson tira uma aliança de seu bolso e diz:

- Você quer casar comigo?

- Senhor Robson, eu não... Eu não posso dizer não, mas...

- Pela Vivi, ela precisa de uma mãe presente, e eu quero que você seja a mãe dela.

- Por ela eu aceito, e o senhor sabe que...

- Não me chame mais de senhor - coloca a aliança no dedo da moça - agora você é minha noiva, chame-me apenas de Robson.

- Ok, Robson

E a queima de fogos de ano novo começou! Um espetáculo de luzes coloridas se fazia no escuro do céu, ofuscando o brilho das estrelas, da Lua e de qualquer corpo brilhante que estivesse por ali. Andreia repousava sua cabeça no ombro de Robson, ele encostava o rosto no cabelo dela e a abraça pela cintura. Logo eles saíram dessa posição e olharam-se. Robson a beijou. Foi um selinho, mas um selinho longo. Ao acabar, novamente se olharam e Robson sorrindo diz:

- Feliz ano novo!

- Feliz ano novo! - ela retribui

Pouco depois, os três entraram. Andreia ajudou Vivi a se arrumar para dormir, depois desceu para a sala onde Robson a esperava com champanhe. Eles brindaram e ali permaneceram conversando por horas. Então Robson acompanhou Andreia até sua casa. Despediram-se e Robson feliz da vida, voltou para sua residência. Os dois ainda demoraram a dormir, consumidos de felicidade.

Muito tempo se passou e finalmente chegou o grande dia. Laura e Jessica, melhores amigas de Andreia e donas de um salão de beleza, ajudavam-na a se arrumar, e arrumaram Vivi também, já que menina seria daminha de honra do casal.

A cerimônia ocorreu naturalmente, parentes e amigos do casal compareceram, mas ninguém esperava que eles aparecessem, Catarina e Mario, os pais de Andreia, sumidos há tantos anos, de repente voltaram. Eles ficaram felizes ao ver Andreia se casando, mas Andreia não ficara assim tão feliz ao revê-los:

- O que fazem aqui? - perguntou

- Filha... Não sabe como estamos orgulhosos de você - respondeu a mãe de Andreia 

- Como vocês ainda tem coragem de dar as caras depois do que fizeram?

- Sentimos muito filha, nós não sabíamos o que estávamos fazendo... - disse o pai de Andreia

- Sentem muito? Vocês me abandonaram e agora vêm me dizer que sentem muito? Vão embora, por favor.

- Andreia, querida, o que está havendo? - questionou Robson ao ver que Andreia parecia irritada

- Não é nada.

- Eles quem são?

- Eles... Eles são... são meus pais, Catarina e Mario.

- Muito prazer meu jovem - cumprimentou o pai de Andreia - espero que faça minha filha feliz

- Claro senhor, claro.

- Rapaz, você ama realmente a Andreia? – perguntou-lhe a mãe da moça

Robson olhou rapidamente para Andreia e respondeu:

- Mais do que tudo nessa vida. Sua filha é a pessoa mais maravilhosa do mundo

- Bom. Muito bom. Mas, agora, se nos der licença temos que ir. Cuide bem da nossa Andreia

- Não, esperem, vocês vão voltar, não vão? - perguntou Andreia

- Não sei minha filha, não sei - respondeu Mario abraçando Andreia - mas eu prometo que tentaremos manter contato

- Seja feliz minha filha - disse Catarina, também abraçando Andreia.

E os pais dela desapareceram quando um feixe de luz branca iluminou os dois. Chocados e boquiabertos Andreia e Robson voltaram a conversar com os outros convidados e no final da festa, a noiva jogou o buquê, que foi pego por uma moça ruiva e muito magra, prima de Robson.

E assim, Robson e Andreia estavam casados, mas viviam como amigos, mesmo que Vivi tivesse aprendido a chamar Andreia de mãe. Um dia, enquanto Vivi e Andreia brincavam, Vivi pediu:

- Mãe, eu quero um irmãozinho.

- Um irmãozinho - sorriu Andreia - é claro, eu falarei com seu pai à noite.

Por enquanto Andreia estava tranquila, falara com Robson e no dia seguinte andaram por vários orfanatos, porém em todos as crianças eram muito mais velhas que Vivi, e eles queriam uma criança que fosse ainda pequena, como Vivi. Durante a noite o casal conversava sobre esse mesmo assunto, até que Robson encontrou uma solução:

- Mas tem outro jeito de a Vivi ganhar um irmãozinho

- Você não está pensando em...?

- Sim, estou, é uma opção, não é?

- E talvez a única que temos... Então vamos tentar?

- É o que devemos fazer.

Naquela noite eles tentaram fazer um filho, porém sem sorte. Foi na segunda tentativa, que Andreia conseguiu engravidar. Nove meses depois uma linda menininha nasceu, e por sugestão de Andreia, o nome escolhido foi Barbara, como a da falecida filha de Robson.

Assim eles foram levando uma vida normal, como a de qualquer família, até que um dia, uma estranha mulher bateu a porta da casa deles. A empregada atendeu e a misteriosa mulher entrou. Caminhou até Vivi e falou:

- Filha

- Quem é você? - perguntou a menina

- Eu sou a sua mãe

- Não, minha mãe é a Andreia.

Andreia chega com Barbara nos braços:

- O que está acontecendo aqui? Quem é você?

- Eu sou a mãe da Vivi. E esse bebe? É seu?

- Sim... Você disse que é a mãe da Vivi? Você é a Clara?

- Eu mesma, e vou levar a Vivi comigo - disse pegando a menina em seus braços:

- Não deixa ela me levar, mãe - gritou Vivi.

- Solta essa menina agora! - ordenou Andreia

- Se quiser ela de volta, terá que pegá-la.

Assim, Clara levou Vivi dali. Andreia desesperada chamou a empregada e pediu-lhe que cuidasse de Barbara. Então, correu para a rua e seguiu um rastro de lama até encontrar Vivi e Clara. Elas estavam em um barracão abandonado, que devia ser uma antiga indústria. La dentro, Andreia e Clara travaram um duelo, no alto de uma frágil ponte, enquanto Vivi correu avisar Robson. Ele, por sua vez, chamou a polícia. Voltando ao barracão, parte da grade que dava sustentação a ponte se rompeu, deixando-a bamba. Mas as duas continuaram brigando até se desequilibrarem. Clara ainda conseguiu se segurar, mas Andreia estava indo direto encontrar a morte, já que estavam a metros de altura, seria talvez uma morte rápida e sem sofrimento, ou talvez lenta e dolorosa. Contudo, a sorte estava ao seu lado, e antes que ela despencasse para o fim, Robson a segurou, salvando-a. Ela estava com o rosto suad e, a boca cortada ainda sangrava quando Robson a beijou:

- Você esta bem? - perguntou aflito

- Sim, agora sim - olha com cara de desconfiada para Clara - essa louca tentou me matar.

- Me desculpa, eu não queria, eu juro que não queria te fazer mal... Eu só... Só queria ver a Vivi, minha filhinha - chorou Clara.

- Clara, não seria mais fácil ter falado conosco antes? - questionou Robson - assim evitaria tudo isso

- Tem razão, eu... Eu perdi o juízo, não sabia o que estava fazendo... Onde está Vivi?

- Ela está em casa com a empregada e a irmã - respondeu Robson

De repente chegou a polícia e cercou o local. Uma ambulância da clínica onde Clara estava internada também fora para lá. Clara perguntava se poderia ver Vivi e conversar com ela, mas antes de receber uma resposta, a polícia invadiu o barracão e cercaram os três que conversavam. Uma camisa de força foi posta em Clara, e ela foi levada para dentro da ambulância. Robson e Andreia foram atrás. Antes que fechassem a porta da ambulância, Clara falou para o casal:

- Me desculpe, eu não deveria... Vocês estão tão felizes juntos... Numa verdadeira paixão - Uma das portas do veículo foi fechada e o motor começava a roncar - cuide bem da sua irmã, Barbara, cuide bem dela minha filha.

Assim Clara foi levada de volta para a clínica. Robson e Andreia tentavam entender o que Clara havia dito. A Dedução final, ou melhor, a afirmação final, foi de que Andreia parecia-se muito com Barbara, a falecida filha de Clara e Robson. Dias depois eles foram até a clínica e Clara explicou que ela via sua filha Barbara em Andreia e, também que Barbara não era filha de Robson, mas sim resultado de um estupro que Clara sofrera mas que preferira deixar em segredo. Segundo Clara, os olhos negros de brilho inconfundível, o sorriso sincero e inocente, os cabelos compridos sempre soltos ao vento em cachos perfeitos, o jeito doce de falar, etc., foram características que por algum misterioso motivo foram passadas para Andreia naquele dia 08 de novembro, em 1997, onde o nascer e o morrer, a alegria e a tristeza estiveram tão próximos ao mesmo tempo em que estavam tão distantes, naquele dia em que destinos há muito traçados, foram mudados e o que estava separado, foi unido.

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